Sertaneja Raiz x Sertanejo Universitário

Há quem diga que o sertanejo universitário não deveria ser chamado de sertanejo, enquanto outros dizem que retrata o “novo homem do campo”.

O sertanejo, estilo musical mais popular do Brasil por estar associada à sua história, está trilhando por dois caminhos, sertaneja raiz e sertanejo universitário. As diferenças existentes entre ambos sertanejos são expressivas.

A música caipira: A urbanização no Brasil se deu somente depois da segunda guerra mundial, sendo do campo maior parte de sua população. Mesmo com o surgimento do rádio e sua era de ouro entre as décadas de 20 e 50, a realidade brasileira era rural, bem diferente do glamour de cidades como o Rio de Janeiro. Por isso, a chamada música caipira está na raiz da identidade brasileira e também faz parte da história da urbanização. “Saudade de Minha Terra”, talvez o sertanejo de raiz mais famoso, foi gravada em 1966, a letra, que você sem dúvida conhece, fala das dificuldades de adaptação à vida na cidade e das belezas da vida rural.

A música sertaneja é a nossa história. A “dupla caipira”, hoje chamada “dupla sertaneja”, é uma invenção comercial, do jornalista e empresário Cornélio Pires (1884-1958). A primeira a gravar uma moda de viola foi Mariano e Caçula, no distante 1929, com a música “Jorginho do Sertão”. Fazem parte dessa época canções sobre a vida simples do campo. Alvarenga & Ranchinho e Palmeira & Biá também marcaram o estilo, entre muitos outros nomes. O sertanejo raiz nasceu nas áreas rurais do país, as canções eram tocadas por homens trabalhadores que se reuniam para, através das canções, expressar sentimentos.

O reconhecimento começou a surgir e o gênero ganhou espaço nacional quando Cornélio Pires decidiu levar para os grandes centros a música da roça. Mais tarde foi ele quem organizou um grupo de violeiros que lançou o primeiro disco, esgotado logo no início das vendas. Depois do sucesso do disco de Cornélio, várias duplas começaram a surgir e a fazer sucesso. Grupos famosos vieram logo depois, ainda usando basicamente acordes de viola e duetos vocais, mas também ousavam. Pena Branca & Xavantinho fizeram muito sucesso com sua versão de “O Cio da Terra”. Tonico & Tinoco ultrapassaram os 60 anos de carreira e o Trio Parada Dura estourou em 1985 com “As Andorinhas”. Novos elementos, como acordeom, violino e trompete foram introduzidos por Milionário & José Rico, Cascatinha & Inhana e Sérgio Reis.

Os anos 80 viram o estouro de duplas cujo principal material eram canções de amor, como Chitãozinho & Xororó, Leandro & Leonardo, e Zezé di Camargo e Luciano. Nos anos 90 os seis chegaram a estrelar um programa especial na TV Globo, o “Amigos” (cuja última edição se deu após a trágica morte de Leandro).

Já o sertanejo universitário, como o próprio nome indica, tem a ver com a ingressão de jovens na universidade. Por volta de 1990, quando estes jovens começaram a entrar nas faculdades, levaram consigo parte da tradição do sertanejo raiz. O estilo musical tomou conta e virou um grande sucesso no país todo, mas em vez de falar sobre as tristezas e angústias, de refletir os acontecimentos cotidianos ou retratar a realidade de uma determinada região, misturou-se com outros ritmos, como o arrocha, o pop e o funk carioca.

Além da diferença de origem – um no interior, outro na cidade, os instrumentos utilizados também são diferentes. O sertanejo raiz começou com o uso da viola, mais tarde do violão. O sertanejo universitário se utiliza da guitarra, contrabaixo, bateria. A diferenciação dos instrumentos é também responsável por mudar todo o ritmo e o local onde o estilo é apresentado.

O sertanejo universitário ficou tão animado e aberto a experimentações que já se mistura a outros gêneros, tornando difícil saber se a versão original de uma música foi gravada como funk ou sertanejo, por exemplo. É o caso de “Sou Foda” e “Eu Quero Tchu, Eu Quero Tcha”, entre outras. O sertanejo também se juntou e, em parte, antecipou a moda do funk ostentação, com canções sobre carros possantes como “Camaro Amarelo” e “Vem Ni Mim Dodge Ram”.

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