No Dia do Meio Ambiente o Governo do Município de Canoinhas promoveu seminário com assunto importante para o futuro de todos os canoinhenses: a possibilidade de exploração do xisto em Canoinhas. Segundo a agricultora e ativista do Coalizão Não Fracking Brasil (COESUS), Suelita Röcker, 80% do território canoinhense tem potencial para exploração da rocha com a finalidade de produção de gás e petróleo.
Suelita lembra que os recursos minerais presentes no subsolo pertencem a União e é por isso que o Governo Federal identificou áreas de terras do município de Canoinhas e vizinhos para que mineradoras interessadas possam estudar a viabilidade da exploração do xisto – são os chamados blocos exploratórios.
Desde o ano passado o Governo Federal vem promovendo leilões públicos permanentes para empresas nacionais ou estrangeiras explorarem áreas potencialmente ricas em fósseis que podem ser transformados em petróleo. “Neste governo (Bolsonaro) piorou, porque ele está colocando os lotes que nem por leilão público passaram”, informa Suelita. É o caso do bloco que compreende 80% do território canoinhense.
Para que haja a exploração os imóveis podem ser desapropriados. Em Papanduva, mineradora já está entrando nas propriedades para fazer estudo.
Suelita explica que em outubro acontece o início das negociações entre o Governo Federal, a Agência Nacional do Petróleo e as mineradoras interessadas em adquirir os blocos que serão leiloados em oferta permanente – inclusive o que Canoinhas faz parte. No site da Agência Nacional do Petróleo é possível encontrar mapa da localização do bloco exploratório com o território canoinhense: https://rodadas.anp.gov.br/pt/oferta-permanente/blocos-exploratorios.
Durante o evento realizado na manhã desta quarta-feira, 5, o prefeito de Canoinhas se posicionou contrário à exploração do minério. “A nossa água é muito mais valiosa do que petróleo. É a nossa saúde que está em jogo”, declarou Beto Passos.
Secretário do Meio Ambiente, Hilário Kath, também corroborou a fala do prefeito: “nós dizemos não à exploração do xisto em nosso Município e na região”.
A palestrante argumentou que o Município pode criar legislações que tentem coibir a exploração em Canoinhas. “Proibir não pode, mas é possível criar leis que dificultem”, explicou. Prefeito Beto Passos garantiu que vai articular as entidades e o Poder Legislativo para buscar inibir a exploração do xisto no município.
Exploração em Canoinhas
Dois tipos de exploração do xisto podem acontecer em Canoinhas: o fracking e o convencional. O fracking é o que causa maiores impactos ambientais de acordo com Suelita. É conhecido como fraturamento hidráulico: uma técnica utilizada para realizar perfurações com cerca de 3,2 mil metros de profundidade no solo para a extração de gás de xisto ou folhelho. A diferença entre essa técnica, considerada não-convencional, e a convencional é que ela consegue acessar as rochas sedimentares de folhelho no subsolo e, consequentemente, explorar reservatórios que antes eram impossíveis de serem atingidos.
Por meio da tubulação instalada nessas perfurações, é injetada uma grande quantidade de água em conjunto com solventes químicos comprimidos – alguns até mesmo com potencial cancerígeno. Suelita afirma que mais de 90% de fluidos resultantes do fracking podem permanecer no subsolo e que os rejeitos, normalmente armazenado em lagoas abertas ou tanques no local do poço, também causar impactos como a contaminação do solo, ar e lençóis de água subterrânea.
As considerações da palestrante têm como base a exploração do gás na Argentina onde ela visitou áreas exploradas.
Riscos ambientais
Além da desapropriação de imóveis, os principais impactos aos canoinhenses são ambientais: entre os danos alertados no seminário estão a contaminação da água e do solo, riscos de explosão com a liberação de gás metano, consumo excessivo de água para provocar o fracionamento da rocha, além do uso de substâncias químicas para favorecer a exploração. Ainda há a preocupação de que a técnica possa estimular movimentos tectônicos que levem a terremotos.
A exploração do gás do xisto é motivo de controvérsia em todo o mundo. O método é proibido na França e na Bulgária. Outros países europeus declararam moratória à técnica de extração, com o objetivo de fazer uma análise mais aprofundada sobre os impactos ambientais. É o caso da Irlanda, República Tcheca, Romênia, Alemanha e Espanha.